sexta-feira, 2 de março de 2012

Esclerose Múltipla - Terapêutica

Em primeiro lugar é importante referir que não existe uma cura para a Esclerose Múltipla (EM). A terapêutica que tem vindo a ser aplicada em doentes com esta patologia tem como objectivo atenuar ou retardar determinados sintomas da EM. Muitos doentes não estão em nenhum regime terapêutico farmacológico, uma vez que os efeitos secundários dos fármacos utilizados são graves e apresentam risco para o doente, competindo assim ao médico e ao farmacêutico avaliar o risco-benefício da terapêutica para cada doente/caso.
A terapêutica pode então ser dividida em três:
  1. Terapêutica dos surtos;
  2. Terapêutica destinada a modificar a história natural da doença;
  3. Terapêutica sintomática.

Terapêutica dos surtos

Num episódio agudo os fármacos normalmente aplicados são os corticosteróides. Estes fármacos são potentes anti-inflamatórios e imunossupressores. São fármacos que mimetizam hormonas produzidas pela glândula supra-renal em situações de stress que visam a regulação do metabolismo, da função cardiovascular, do crescimento e da imunidade. Vão assim encurtar o período de duração e reduzir a severidade do surto, não afectando as sequelas que possam resultar deste.

Sendo fármacos que actuam em diversas vias hormonais, ao serem administrados estamos a aumentar significativamente a concentração destas hormonas no nosso organismo. Deste modo, há uma desregulação e consequentemente muitos efeitos secundários (aumento da glicémia, debilidade muscular, alterações no comportamento, osteoporose, úlcera péptica, supressão supra-renal, entre outros).

Estes fármacos devem ainda ser usados com especial cuidado em doentes que apresentem úlcera péptica, cardiopatia ou hipertensão com insuficiência cardíaca, doenças infecciosas como a varicela e a tuberculose, psicoses, diabetes, osteoporose e glaucoma.

Terapêutica destinada a modificar a história natural da doença

Os fármacos utilizados neste tipo de terapêutica são fármacos imunomoduladores que vão actuar regulando a componente auto-imune da doença. Ou seja, vão tentar controlar o ataque que o organismo está a fazer ao seu próprio sistema nervoso. Mais uma vez, devido à sua acção sistémica, são fármacos que apresentam muitos efeitos secundários associados.

Interferão beta

É uma citocina produzida no nosso organismo que tem como função regularizar a resposta imunitária T dependente, promovendo a transformação de linfócitos Th1 e Th2. Reduzem a frequência e a severidade dos surtos e o número de novas lesões também diminui. No entanto, é ineficaz no controlo da fase progressiva da doença uma vez instalada, e não está provado que a terapêutica precoce possa atrasar significativamente o início da progressão.

No mercado existem duas formas: interferão beta-1A e interferão beta-1B. Apresentam como reacções adversas sintomas do tipo gripal, confusão mental, nervosismo, reacção no local de injecção, alterações no hemograma e hipersensibilidade. São contra-indicados na gravidez, durante o aleitamento e em doentes com insuficiência renal. É preciso especial atenção na administração a doentes com estados depressivos.

Acetato de Glatirâmero

Polipéptido sintético que mimetiza a mielina. O seu mecanismo de acção ainda não é bem conhecido, mas pensa-se que actua por modificação dos processos imunológicos que intervêm na fisiopatologia da EM. São particularmente eficazes na prevenção de surtos na EM recorrente-reminente, não havendo no entanto benefícios nas formas progressivas da doença.

O seu principal efeito secundário é reacção no local de injecção. No entanto, imediatamente após a injecção pode surgir vasodilatação, dor no peito, dispneia ou taquicardia. Deste modo, o doente terá que ser vigiado durante a primeira auto-injecção e nos trinta minutos seguintes.

Terapêutica Sintomática

O doente com EM apresenta frequentemente múltiplos sintomas neurológicos que podem ser tratados, levando a um aumento na sua qualidade de vida. A fisioterapia apresenta um grande papel neste ponto, uma vez que permite o fortalecimento muscular, o treino de marcha, a obtenção/adaptação da postura e do equilíbrio do indivíduo, entre outros. Outros aspectos que podem ser treinados/ensinados com vista ao aumento do bem-estar do doente são uma adequada adaptação a canadianas ou cadeira de rodas, a prevenção de escaras, a auto-algaliação e a utilização correcta de órtoteses (dispositivo ou aparelho destinado a corrigir, estabilizar ou modificar uma função muscular, esquelética ou neurológica).

Bibliografia:

  • KATZUNG et al, Basic and Clinical Pharmacology, McGrawHill Ed., 10ª edição, 2006;
  • Pimentel, J.; Ferro, J.; Neurologia - Princípios, Diagnóstico e Tratamento; Lidel, Lisboa 2006;
  • Prontuário Terapêutico 8, Infarmed, Março de 2009.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More